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a várzea tem hitória

Fundada em 2008 a Federação Paulista de Futebol de Várzea tem o objetivo de resgatar o verdadeiro  Futebol Varzeano de São Paulo.

Conta com 4000 equipes cadastradas na grande São Paulo.

440 campos  relacionados.

Como surgiu o Futebol Varzeano?

Para explicar a origem do Futebol de Várzea, principalmente na cidade de São Paulo, será preciso voltar um pouco no tempo e começar uma viagem por dentro de toda história esportiva mundial.

Nossa viagem começa no ano de 2.197 Antes de Cristo, onde, diferente do que a maioria acredita, o futebol não nasceu na Inglaterra. A prática já existia na China, quando militares chineses jogavam com o crânio de seus inimigos. Nesta época, já não se podia usar as mãos e o objetivo era colocar a bola entre duas traves improvisadas. Anos depois, no século 2 D.C, surgiu no Japão o Kemari (veja na foto abaixo), que era jogado em um campo redondo, na qual já haviam as divisões de times e o objetivo era brincar com a bola para que ela permanecesse por mais tempo no ar.

Kemari

Já em 1863, os ingleses criaram a primeira associação de clubes e, desta forma, o esporte praticado na antiguidade por diversas civilizações passou a ser organizado e com regras universais. A associação organizadora (Football Association) decidiu então nomear o esporte como Football (pé na bola). Mas, somente nove anos depois, segundo estudo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), houve o primeiro jogo internacional do mundo, no dia 30 de novembro de 1872, entre Inglaterra e Escócia, em Glasgow. A partida, em si, não foi muito empolgante e terminou em 0 a 0.

1894 – Nasce o futebol brasileiro

A chegada do esporte ao Brasil demorou pouco mais de 20 anos, em 1894. Descendente inglês, Charles Miller voltou para a Inglaterra para ser alfabetizado na educação britânica junto com seu irmão John, por escolha de seus pais. Nascido em São Paulo, Charles teve seu primeiro contato com o futebol na escola. O garoto apresentava total intimidade com o esporte e passou a ser cobiçado pelas universidades locais, mas após o falecimento do pai e do irmão em um intervalo de apenas seis anos, resolveu voltar ao país natal. Segundo dados de um estudo realizado pela Unicap, Charles carregou ao Brasil uma mala com um livro de regras da Association Football, duas camisas de times ingleses que defendeu, duas bolas de capotão, um par de chuteiras e uma bomba de ar. Iniciou-se, neste momento, uma aliança de amor entre o brasileiro e o esporte.

Charles Miller

No ano seguinte, a primeira partida de futebol disputada em solo tupiniquim aconteceu, entre duas empresas de origem inglesa, que contavam com atletas nascidos no continente europeu. No dia 14 de abril de 1895, em São Paulo, os funcionários Companhia de Gás de São Paulo (GasCompanyof São Paulo) e da Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company), time de Charles Miller, se enfrentaram. O resultado foi 4 a 2 para os ferroviários.

Dois anos após a chegada do esporte ao Brasil, de acordo com a tese sobre hipóteses para a popularização do futebol em São Paulo (1894-1920) da Universidade de São Paulo, a cidade ganhou um campo de futebol dentro das exigências internacionais. A praça tornou-se o único local onde organizavam-se as partidas oficiais de futebol, da cidade, até 1917 (data de demolição da praça).

Confira um pouco mais sobre os Campos de Várzea

Se a prática do esporte foi rapidamente inserida no país, a criação do primeiro clube de futebol demorou um pouco. Muito se diz sobre a Associação Atlética Ponte Preta ser o primeiro clube criado exclusivamente visando a prática de futebol no Brasil, no entanto 23 dias antes da fundação da equipe campineira, no dia 19 de julho de 1900, foi fundado o Sport Club Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Tiveram outros que vieram antes, porém abandonaram o futebol. Equipes com tradição no esporte hoje em dia como Botafogo, Flamengo, Vasco e Vitória são mais antigos, porém só aderiram ao esporte da bola nos pés anos depois. E, em homenagem ao Sport Club Rio Grande, a CBF escolheu o dia 19 de julho como o Dia do Futebol.

Dois anos depois, no ano de 1902, na contramão da criação da Liga Paulistana, responsável por organizar campeonatos “oficiais” de futebol, que só aceitava a elite da cidade, ou seja, homens de alto poder aquisitivo, os campos de várzea começaram a surgir. De acordo com a tese de Gilmar Mascarenhas de Jesus “Várzeas, operários e futebol: uma outra geografia” da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, os primeiros campos de várzea logo se espalham pelos bairros operários e tomaram as periferias das cidades, fazendo com que o esporte deixasse de ser exclusivamente da elite Paulista.

Porém, em janeiro de 1904, a prefeitura de São Paulo com finalidade de regulamentar a prática do futebol proíbe a pratica do esporte fora dos locais indicados embasada pela lei nº 702. No mesmo ano, a FIFA (Federação Internacional de Futebol, associação regida pela legislação suíça e sediada em Zurique, na Alemanha e atual entidade máxima do futebol) é criada na França por quatro amigos.

Seis anos depois, Em 1910, é fundado em São Paulo o primeiro clube de futebol brasileiro formado a partir de uma base popular: o Sport Club Corinthians Paulista, time que atualmente faz parte dos quatro maiores da cidade. Mas, somente sete anos depois, o futebol varzeano começa a se fundir com o da elite.

Conheça um pouco mais sobre algumas Equipes Varzeanas.

1920 – O Futebol Varzeano.

E, em 1920, o futebol, com principal cenário nas várzeas do Rio Tietê, ganhava o gosto do paulistano que aos poucos deixava de lado a prática do críquete, cavalgadas e outros esportes preferidos. Das várzeas do rio, o deporte se alastrou à periferia das cidades e alcançou os centros, ganhou adoradores desde classe alta á classes baixas. Uma década mais tarde, de acordo com estudos realizados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (COONDEPHAT, 1994), os bairros de São Paulo passaram a estabelecer relações estritas entre si através do futebol, ou seja, por meio de campeonatos entre times locais. Assim, o futebol de várzea passava a ganhar mais força.

Porém, apesar do fortalecimento das periferias, a partir da segunda metade da década de 20 começaram a surgir alguns impasses. Mesmo o futebol já tendo forte apelo popular, clubes do Rio e São Paulo se recusavam a aceitar a profissionalização, pois, por ser um esporte de elite, ele poderia se manter sozinho, só com a venda dos ingressos. Aproveitando-se deste fato, as equipes do subúrbio começaram a pagar os famosos “bichos” para os melhores atletas, “roubando-os” dos clubes mais elitizados.

Apesar de já existir um futebol semi-profissional, quem se beneficiava com isso eram exclusivamente os clubes, que enriqueciam cada vez mais com os montantes de arrecadação nos estádios. Os jogadores, por sua vez, eram extremamente explorados e começaram a se revoltar e começou o êxodo de atletas para a Europa. Com a pressão aumentando cada vez mais, a profissionalização foi algo tardio, mas muito bem vinda em janeiro de 1933.

1940 até 1950 – Popularização do profissionalismo nos clubes de fábrica

Durante as décadas anteriores, o “futebol de fábrica” se popularizou na maneira estrondosa. A prática consistia nas grandes fábricas montarem times de futebol para disputar campeonatos com empresas rivais (assim como o citado anteriormente com a chegada de Charles Miller ao Brasil). Mas, a importância dos campeonatos e a rivalidade entre os “clubes de fábrica” acabaram se tornando tão grandes que se começou a montar equipes mais competitivas. Muitas vezes as empresas preferiam contratar bons jogadores ao invés de um bom operário. Além disso, operários-jogadores, como eram conhecidos, recebiam uma remuneração especial.

Com o tempo os operários-jogadores começaram a julgar que a posição que tinham no time da empresa nada mais era do que um passo inicial para serem atletas profissionais. Muitos dos que faziam testes, não passavam, mas não largavam o esporte, pois garantia bons empregos e renda extra. Dentre os casos de operários jogadores que fizeram sucesso no futebol, destaca-se Garrincha. Mas também existia o caso inverso: atletas que, por já serem conhecidos, garantiam vaga nas equipes das empresas com o objetivo de ter a tal renda extra.

a várzea tem hitória

Era uma cidade de rios indomáveis: eles irrompiam sazonalmente sobre as margens, moldando férteis e úmidas várzeas. Quando o rio baixava, a terra era rija o suficiente para que uma bola rolasse e muitos pés corressem atrás dela. Foi em uma São Paulo sem rios enterrados sob fatias tristes de concreto que emergiu o futebol de várzea.

Escrito por Cecilia Garcia

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